Almir Nahas

O Tempo e as Constelações

Por Almir Nahas(*)

Uma pergunta sempre feita: quanto tempo até que uma constelação comece a fazer efeito?

Antes da resposta, é necessário esclarecer que não é apenas uma dimensão do tempo que se revela nas constelações. Há o necessário e tão presente tempo cronológico, linear, e a pergunta geralmente se refere a esta dimensão. Mas há também do tempo interno, o tempo da alma, um tempo vertical no qual tudo está presente. Em sua grandeza e magnitude, o tempo é um mistério que a nossa vã filosofia, na busca de compreender, apenas se aproxima e arrisca ter ideias. Fiquemos por aqui.

Em relação ao tempo linear, o do relógio e do calendário, as Constelações começam a atuar desde o momento que a pessoa decide fazer uma Constelação. Assim como se marca a data de um concurso, uma defesa de tese, uma reunião importante, ao ser marcado, o evento já começa a acontecer. Olhando atentamente, com o Olhar Sistêmico, eventos importantes que reúnem mais de uma pessoa – e isso é o que quase sempre acontece – já começam muito antes de começar. Basta lembrar do primeiro encontro com aquela que você sonhou ser a pessoa que te acompanharia por toda a vida. É fácil perceber que, quando ele aconteceu, já estava acontecendo, certo? Com as Constelações é assim.

Há muitos relatos de que a pessoa, às vezes semanas antes, começa a ter sonhos, sensações, pensamentos sobre a situação que vai constelar, a partir do momento que comprometeu-se a trabalhar a questão. Também acontece de pessoas envolvidas na questão, mesmo sem saber de nada, tem atitudes que parece que também já estão em movimento, inconscientemente. O trabalho já começou.

Às vezes a entrevista que antecede a Constelação já faz um efeito profundo, já muda a visão do cliente, às vezes até parece que a entrevista bastaria, o cliente já teria um bom encaminhamento para sua questão. Na linha do tempo, porém, os efeitos de uma Constelação seguem se fazendo perceber. Um cliente pode sair intrigado, confuso e até desconfortável de uma Constelação, ou emocionado, extasiado, com o coração apaziguado imediatamente após a Constelação. As sensações e sentimentos poderão se alterar bastante nos dias e semanas seguintes. Para melhor ou para pior, os caminhos de uma cura emocional não são previsíveis e nem sempre os controlamos. É preciso viver esses primeiros dias e observar, na prática, as mudanças acontecerem. E após algum tempo, pode vir uma estabilidade, num outro patamar da situação constelada. Às vezes a situação se resolve, como se fosse mágica, sem que nenhuma atitude premeditada fosse tomada. Apenas por se permitir seguir o novo fluxo.

Há casos, porém, em que os efeitos de uma Constelação são percebidos por meses ou anos. Já ouvi relatos de alguns clientes, de uma única Constelação produzir efeitos transformadores contínuos por 5 e até 8 anos.

Quanto ao tempo da alma, este pode permitir que uma Constelação atue até mesmo no passado. Memórias ancestrais, registros guardados no inconsciente ou em alguma dobra do Tempo também são tocados e aquilo que estava em desordem pode entrar em Ordem, um novo/antigo fluxo vital pode ser restabelecido, e a infância triste pode ficar feliz, os mortos na guerra podem descansar em paz, os filhos pródigos podem ser novamente acolhidos e se reconciliar. Como constatou Bert Hellinger, brilhantemente, quando o passado é honrado na justa medida, serve ao presente e ao futuro de bom grado. No tempo da alma, passado, presente e futuro podem se dar as mãos e seguir juntos.

O que não é possível é prever o que e como os efeitos de uma constelação irão se manifestar, na vida prática. Se vai produzir grandes ou pequenas mudanças. Se todos no sistema irão sentir seus efeitos, como se fosse mágica. Sobre o sistema de um cliente e os caminhos que o Amor escolhe para fluir ao longo dessa história, nada sabemos. Quem sabe do Amor é Ele mesmo. Nós apenas o contemplamos e desfrutamos dele, o quanto nos seja possível.   

(*) Jornalista, consultor, palestrante e constelador

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